São João Batista da Foz, antigo povoado separado do Porto, foi, durante séculos, património dos frades beneditinos de Santo Tirso. Há precisamente 500 anos, em 20 de novembro de 1519, D. Manuel I atribuía um foral próprio a São João da Foz, vincando o caráter autónomo da pequena vila.
Desde sempre terra de pescadores, São João da Foz viu os seus equipamentos serem desenvolvidos nas décadas de 1520 a 1540 pela mão de D. Miguel da Silva, bispo de Viseu e cardeal na cúria papal, em Roma, que, contratando um mestre arquiteto italiano, discípulo do próprio Raphael, Francesco da Cremona, mandou erigir uma sumptuosa igreja Renascentista no coração da Foz do Douro, tal como o farol de São Miguel-o-Anjo, sensivelmente na mesma área, na Cantareira. Hoje, a igreja de São João Batista encontra-se praticamente toda destruída, conservando-se, precariamente, o Altar-Mor, no interior do Forte de São João da Foz. O farol, na verdade, o mais antigo de Portugal, continua presente no território, ainda que nem sempre se destaque na memória coletiva.
O forte, propriamente dito, foi construído a partir da segunda metade do século XVI, tendo sido completado em plena Guerra da Restauração, em 1647. Foi palco de vários eventos políticos e militares, nomeadamente durante as Invasões Francesas e a Guerra Civil de 1832-34.
No início da década de 1870, a Foz do Douro foi o destino projetado para a primeira linha de transportes urbanos construída no nosso país: a linha dos carros americanos que ligava a antiga Porta Nova, na Ribeira, até ao Passeio Alegre.
Por toda a marginal, em direção a montante, passando por Lordelo e Massarelos, podemos ver as memórias da azáfama industrial da região, desde o antigo Cais do Ouro, onde a armada de Ceuta foi construída, até aos estaleiros da cimenteira que abasteceu a Ponte da Arrábida, passando pelo antigo gasómetro da cidade, o Real Arsenal e oficinas do exército, os armazéns entrepostos da pesca do bacalhau, as velhas fundições do Bicalho e a central, hoje museu, dos Serviços de Transportes Coletivos do Porto.
A par da memória histórica, a vida natural do estuário do Douro faz igualmente parte deste percurso multifacetado, onde a natureza e a mão do homem se cruzam em séculos de interação e modelação permanente.