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"A valorização e a preservação do património dependem, sobretudo, das ações de conservação e restauro da sua materialidade, do seu legado físico, propriamente dito." Mário Pastor



Redigido por Mário Pastor
13 janeiro 2019



a causa de papel



A valorização e a preservação do património dependem, sobretudo, das ações de conservação e restauro da sua materialidade, do seu legado físico, propriamente dito. Todavia, para uma completa identificação, compreensão e contextualização do património, é necessário proceder, dentro de uma dinâmica interdisciplinar, ao seu estudo o mais exaustivo possível.


Neste sentido, outras ciências patrimoniais, como as ciências historiográficas e sociológicas, têm, literalmente, uma palavra, a dizer sobre o património em estudo. Essa palavra, o verbo inicial que abre as portas ao significado das coisas, à sua interpretação e conceptualização, também depende, simultaneamente, do seu suporte físico, pois só quando se preserva o suporte, é que podemos aceder à palavra, à memória. São vários os exemplos de suportes de escrita que se encontram, nos nossos dias, protegidos por rigorosos princípios de conservação patrimonial que procuram, em primeiro lugar, preservar os objetos, ainda que para isso se sacrifique o acesso ao seu conteúdo, à sua leitura, propriamente dita. São exemplo as centenas de voluminis, os rolos, da biblioteca de Herculano, soterrados e carbonizados aquando da erupção do Vesúvio, em 79 d.C.


Descobertos em 1752, os rolos de Herculano foram imediatamente alvo da curiosidade dos investigadores e antiquários de então, ávidos por desenrolarem aqueles frágeis objetos e poderem retirar de lá as delícias dos seus textos clássicos, manuscritos únicos da Roma Antiga. Naturalmente, objetos de papiro carbonizado e soterrados em cinzas, durante dezasseis séculos não poderiam ser desenrolados e lidos facilmente. Pelo contrário, assim que começaram a ser abertos, desfaziam-se em cinza, perdendo-se não só o seu conteúdo, como o objeto propriamente dito. Em vão, durante os 250 anos seguintes, foram tentadas novas formas de conservação e acesso ao tesouro de Herculano. Cada tentativa correspondia a uma perda irreversível, até que foi decidido arquivar os voluminis em condições de segurança, aguardando pelas boas novas da tecnologia que pudessem apresentar uma solução não intrusiva para a questão dos rolos. E assim foi, a partir de 2009, começaram a ser ensaiadas as primeiras digitalizações feitas a partir de Raios X, contrastadas tomograficamente, para poderem ser reconstruídas em ambiente 3D: sem tocarmos nos frágeis objetos, começamos a poder ler, no ecrã do computador, as suas preciosas palavras.


Longe de Herculano e da sua biblioteca romana, temos, atualmente, as bibliotecas depósito. Instituições públicas que têm como missão a salvaguarda de todo o material que é editado nos seus países. No caso português, os nossos depósitos são a Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, e a Biblioteca Municipal do Porto. Ambas instituições centenárias. Contudo, a missão da biblioteca não se esgota na preservação dos seus papeis, o seu objetivo superior é facultar o acesso, a leitura do seu espólio, pois só assim o conhecimento pode fazer sentido.


Uma das mais importantes secções de depósito das bibliotecas são as hemerotecas, as coleções de fundos da imprensa periódica: jornais e revistas, normalmente os parentes pobres dos livros, os materiais que mais depressa são descartados e perdidos. Os jornais diários, neste sentido, encontram-se no fundo da tabela. Impressos em papel de fraca qualidade, baratos na sua origem, de consumo instantâneo, os jornais conservam-se muito mal, o seu destino, quando não era servir de papel de embrulho na praça, era servir de acendalha na lareira ou no fogão. É por isso que os depósitos das bibliotecas são arquivos fundamentais para podermos aceder à informação, sempre preciosa que os diários dos séculos XVIII, XIX e XX nos podem trazer para o estudo dos comportamentos, das mentalidades, mas também de restantes elementos patrimoniais e da memória que se plasmam nas notícias do dia a dia: uma obra que é construída, uma outra que sofreu um acidente; uma fotografia há muito esquecida, um nome de um proprietário, uma disputa patrimonial, o registo de um acidente… Os elementos recolhidos nos jornais, especialmente os diários, são mananciais infindáveis de informação que, a ser bem utilizada, é preciosa para a construção das nossas imagens do passado.


Atualmente, um pouco por todo o lado, as hemerotecas têm sido objeto de um passo à frente na conservação e acesso aos seus acervos, com a digitalização dos documentos. Os exemplos da Biblioteca do Congresso, nos EUA, da Hemeroteca Digital do México, ou, aqui ao lado, a Hemeroteca Digital de Madrid, são modelos de boas práticas. A exaustiva digitalização de tantos milhares de páginas que hoje se encontram protegidas, mas podendo ser consultadas a qualquer hora e em qualquer parte do mundo, tem sido da maior utilidade para os investigadores.


No entanto, no nosso país, com a honrosa exceção da Hemeroteca Digital de Lisboa, projeto de grande esforço, mas ainda muito limitado, o trabalho e a vontade de digitalização dos nossos acervos de periódicos não está a ser feito. De uma primeira promessa, em 2005, com o projeto da então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, continuamos sem nenhum projeto estatal para iniciar, de modo sistemático e contínuo, a digitalização das nossas hemerotecas.


No caso da Biblioteca Municipal do Porto, a situação tornou-se mais grave ainda: os jornais diários (e a cidade do Porto teve vários) anteriores, sensivelmente, a 1930, estão a ser recolhidos. Não podem ser consultados, não podem ser vistos, não podem ser digitalizados. Entendemos, naturalmente, que se trata de uma medida de preservação, mas a ser consequente, teria que ser acompanhada com outras medidas, nomeadamente a sua digitalização e disponibilização para consulta online para os investigadores. Contudo, nada está a ser feito nesse sentido: retirados da leitura, arquivados e inacessíveis, os jornais que traziam os pequenos e os grandes acontecimentos de há 100 anos, estão, neste momento, fora do nosso alcance, silenciosos e inúteis como os rolos da velha biblioteca de Herculano.



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